Uma mulher foi internada de emergência com dor abdominal severa, que se estendia há 5 dias. Uma TAC tornou evidente uma anormalidade no cólon, sugestiva de um corpo estranho. Durante a cirurgia foi encontrado e removido um abcesso, dentro do qual estava um osso de peixe com cerca de 30 mm. Tinha consumido bacalhau alguns dias antes, mas não sentiu engolir a espinha.1
Também houve o caso da mãe que comprou bolinhos de bacalhau para si e para os seus 3 filhos. Comeram-nos ao meio dia e às 8 da noite ficaram com febre, espasmos abdominais, vómitos, diarreia e prostração. Demoraram uma semana a recuperar. Um pedaço dos bolos de bacalhau foi levado para o laboratório, onde foi determinada a contaminação bacteriana responsável pela doença.2
O bacalhau também é conhecido por provocar reacções alérgicas em indivíduos susceptíveis, como foi o caso de uma criança que desenvolveu sintomas de rinite, asma, urticária, palidez, e evolução para uma pancreatite, proporcionada pela anafilaxia ao consumo de bacalhau.4
Se estes parecem casos improváveis, há riscos bastante mais insidiosos. Um estudo de 2012 determinou que bacalhau pescado em águas norueguesas possuía as concentrações de arsénio mais elevadas alguma vez registadas em organismos marinhos.5 A situação é semelhante no Pacífico, onde basta consumir uma porção de bacalhau por semana para exceder a dose de referência segura.6 O arsénio exerce a sua toxicidade ao inactivar cerca de 200 enzimas, especialmente as involvidas em processos de energia celular e reparação e sínteze do ADN. A toxicidade aguda pode provocar desde náuseas, vómitos, dor abdominal e diarreia, até danos cerebrais e nervosos. Por sua vez, a toxicidade crónica resulta em doença sistémica – que pode incluir o cancro.7
O polvo também não é excepção: consumir mais do que duas porções de 150g por semana de polvo capturado em águas portuguesas, faz ultrapassar o nível considerado seguro para a ingestão de mercúrio, tendo em consideração que outras fontes de mercúrio não são consumidas.8 A Agencia Governamental Americana para as Substâncias Tóxicas coloca o mercúrio no terceiro lugar dos elementos mais nocivos do planeta, com efeitos neurotóxicos particularmente expressivos.9
Em adição, o bacalhau é o ícone do declínio e má gestão dos recursos marinhos,10 com populações a aproximarem o colapso comercial total e o esgotamento em diversas zonas. Apesar de regulamentações de pesca estritas e favorecimentos climatéricos terem auxiliado na recuperação da espécie, a situação precária continuará a ser exacerbada pelo aumento do seu consumo.11 A gestão dos stocks de polvo também é feita de uma forma inconsequente, e os especialistas desencorajam a compra das principais fontes comerciais da espécie.12
800 000 toneladas anuais de bacalhau: a ganância humana só para na extinção.
FELIZ NATAL
E se não por uma questão de saúde, pelos oceanos e seus habitantes, porque não pelas palavras daquele que dignifica o próprio Natal: “Desejo misericórdia, não sacrifício”… Subjugar pela força e condenar, desnecessariamente, a vida de outras criaturas, só porque são diferentes… vulneráveis… contraria tudo aquilo que o Natal deveria realmente representar…
“…Por entre estes recantos neurais, a consciência pulsou em existência e, por uma rota evolutiva separada, o Universo ganhou noção de si próprio…”
Para rechear uma mesa de opções deliciosas não é necessário impugnar os alicerces morais que caracterizam o Natal genuíno.
Muito bem escrito e apropriado à época “festiva”, para quem a celebra…
Obrigado, Sofia! 😉