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O QUE COMEM OS ANIMAIS DE PRODUÇÃO?


A ideia bucólica de vacas que pastam felizes em campos prístinos reside somente nos cartazes publicitários da indústria de produção animal, por trás dos quais vale tudo em nome dos lucros. As fontes mais baratas de alimentação são a norma, razão pela qual os animais de produção consomem cerca de 85% do produto final da indústria de retransformação,que se especializa em converter restos de matadouros, animais doentes, raspagens do fundo de aviários e alimentos contaminados com dejectos de ratos e baratas, em matérias primas rentáveis.2,3 

“Somos o que comemos”

A utilização de produtos animais retransformados na alimentação dos animais de produção foi imprescindível para a eficiência e disponibilidade de carne e leite a preços acessíveis para os consumidores.4 Esse processo, perfeitamente legal, teve maior notoriedade depois do surto da Encefalopatia Espongiforme Bovina, comummente designada como Doença das Vacas Loucas – uma condição degenerativa do cérebro provocada por um prião infeccioso que não é destruído pelo processo de retransformação.1 O canibalismo estava a adoecer as vacas que, por sua vez, adoeciam humanos. Cerca de 170 pessoas morreram e mais de 4 milhões de vacas foram abatidas.5 Outras potenciais consequências deste tipo de práticas de alimentação incluem contaminação bacteriana e tóxica.2

A indústria de reprocessamento é indelével da indústria de produção de alimentos para animais domésticos e de consumo.

Os animais de produção também são o principal consumidor de Organismos Geneticamente Modificados – OGMs – absorvendo cerca de 70% da produção mundial.Ao contrário do que se acredita, mais de 80% da engenharia genética não é usada para aumentar as colheitas, a nutrição ou a tolerância à seca, mas sim para promover a resistência da planta cultivada à aplicação de herbicidas, que são vendidos pelas mesmas empresas que vendem as sementes geneticamente modificadas.7 O resultado final consiste em alimentos que contêm concentrações de toxinas letais extremamente elevadas.8 O Roundup – uma marca popular desse tipo de herbicidas – é 125 vezes mais nocivo do que o glifosato, o seu ingrediente principal e, de longe, o mais tóxico de entre todos os pesticidas testados.Análises de animais alimentados com OGMs confirmam aumentos exponenciais de mortalidade, tumores, problemas renais, hepáticos e hormonais.10 Em concentrações de apenas 1 parte por milhão, o Roundup provoca uma diminuição de testosterona de 35%.Em humanos, o Roundup testado em doses sub-agrícolas causa danos em células testiculares, hepáticas e placentárias, e afecta negativamente a reprodução e o desenvolvimento fetal.11,12 Bastam 10-16 partes por milhão de glifosato para aumentar a proliferação de cancro da mama dependente de hormonas.13 A evidência indica que o herbicida deveria ser reclassificado como cancerígeno, mutagénico e reprotóxico.Expectavelmente, os animais de produção concentram glifosato nos seus tecidos, que é disponibilizado aos consumidores de carne, peixe, lacticínios e ovos com consequências preocupantes.14,15

Os animais de produção concentram quantidades elevadas de herbicidas a partir de uma dieta rica em Organismos Geneticamente Modificados.


1 – Mekonnen T, Mussone P, Bressler D. Valorization of rendering industry wastes and co-products for industrial chemicals, materials and energy: review. Crit Rev Biotechnol. 2016;36(1):120-31.
2 – Amy R. Sapkota, Lisa Y. Lefferts, Shawn McKenzie, Polly Walker. What Do We Feed to Food-Production Animals? A Review of Animal Feed Ingredients and Their Potential Impacts on Human Health. Environ Health Perspect. 2007 May; 115(5): 663–670.
3 – David L. Meeker. Essential Rendering – All About the Animal By-Products History. National Renderers Association.
4 – Thomas C. Jenkins, Ph.D. Rendered Animal  Products in Ruminant Nutrition. Department of Animal and Veterinary Sciences, Clemson University
5 – David Brown (2001). The ‘recipe for disaster’ that killed 80 and left a £5bn bill. The Daily Telegraph.
6 – Van Eenennaam AL. GMOs in animal agriculture: time to consider both costs and benefits in regulatory evaluations. J Anim Sci Biotechnol. 2013 Sep 25;4(1):37.
7 – Shrader-Frechette K. Property rights and genetic engineering: developing nations at risk. Sci Eng Ethics. 2005 Jan;11(1):137-49.
8 – Gasnier C, Dumont C, Benachour N, Clair E, Chagnon MC, Séralini GE. Glyphosate-based herbicides are toxic and endocrine disruptors in human cell lines. Toxicology. 2009 Aug 21;262(3):184-91.
9 – Robin Mesnage, Nicolas Defarge, Joël Spiroux de Vendômois, and Gilles-Eric Séralini. Major Pesticides Are More Toxic to Human Cells Than Their Declared Active Principles. BioMed Research International. Volume 2014 (2014), Article ID 179691, 8 pages.
10 – Gilles-Eric Séralini, Emilie Clair, Robin Mesnage, Steeve Gress, Nicolas Defarge. Republished study: long-term toxicity of Roundup herbicide and Roundup-tolerant genetically modified maize. Environmental Sciences Europe. 2014, 26:14
11 – Richard S, Moslemi S, Sipahutar H, Benachour N, Seralini GE. Differential effects of glyphosate and roundup on human placental cells and aromatase. Environ Health Perspect. 2005 Jun;113(6):716-20.
12 – Benachour N, Sipahutar H, Moslemi S, Gasnier C, Travert C, Séralini GE. Time- and dose-dependent effects of roundup on human embryonic and placental cells. Arch Environ Contam Toxicol. 2007 Jul;53(1):126-33.
13 – Thongprakaisang S, Thiantanawat A, Rangkadilok N, Suriyo T, Satayavivad J. Glyphosate induces human breast cancer cells growth via estrogen receptors. Food Chem Toxicol. 2013 Sep;59:129-36.
14 – Krüger et al. Detection of Glyphosate Residues in Animals and Humans. J Environ Anal Toxicol 2014, 4:2
15 – John Peterson Myers et al. Concerns over use of glyphosate-based herbicides and risks associated with exposures: a consensus statement. Environ Health. 2016; 15: 19.

 

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