ARTIGOS

MESCLA TÓXICA – CARNE, LACTICÍNIOS E OVOS

Gordura saturada, gordura trans, colesterol, ferro-heme, retinol e toxinas ambientais, são apenas algumas das substâncias implicadas nas disfunções de saúde inerentes ao consumo de produtos de origem animal. Uma panóplia de outras substâncias, geralmente menos conhecidas, evidencia, uma vez mais, a superioridade do vegetarianismo.

COMPOSTOS N-NITROSO

Os compostos N-Nitroso, que incluem as nitrosaminas, são dos químicos cancerígenos mais potentes que se encontram no tabaco.1 Atendendo a que a carne é rica nesse tipo de compostos, a forte relação entre o seu consumo e a incidência de cancro possui mais um elemento explicativo.2 A partir dos valores médios anuais de consumo de carne em Portugal – 108kg – e da quantidade de compostos N-Nitroso que se encontram na carne fresca, é possível inferir que um consumidor expõe o seu organismo à dose correspondente a 912 cigarros, ou mais de 45 maços, por ano. Se esse mesmo consumo fosse inteiramente constituído por carne processada, seria equivalente a 9900 cigarros, ou 495 maços.3,4 Não é surpreendente, portanto, que o cancro reclame o primeiro lugar das causas de morte em Portugal. Por outro lado, as dietas vegetarianas, naturalmente desprovidas de compostos N-Nitroso, protegem contra o desenvolvimento de cancro.5

3 Apenas uma salsicha contém tantos compostos N-Nitroso como 5 cigarros, ainda assim, o peixe seco pode ser uma fonte bastante mais expressiva.

HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS POLICÍCLICOS E AMINAS HETEROCÍCLICAS

As aminas heterocíclicas e os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são toxinas que se formam quando a carne – incluindo de peixe ou frango – é cozinhada. Também fazem parte do espectro de químicos no fumo de tabaco responsáveis pelos seus efeitos cancerígenos.6,7 Uma vez que exercem uma poderosa actividade hormonal, estimulam potentemente as células de cancro a invadir outros tecidos, mesmo em concentrações extremamente baixas.8 As aminas heterocíclicas podem-se espalhar pelo organismo e são encontradas nas células mamárias e no leite de mulheres omnívoras, o que implica um possível papel causal no desenvolvimento de cancro da mama e na patogénese da criança. Em contrapartida, o carcinógeno não é detectado no leite de dadoras vegetarianas.9 Estudos demonstram que se os vegetarianos forem expostos às aminas heterocíclicas que se encontram na carne, os danos produzidos são significativamente inferiores aos dos omnívoros.1011 O benzopireno é um dos principais químicos cancerígenos do fumo de tabaco. Algumas aminas heterocíclicas que se formam na carne são 1000 vezes mais mutagénicas.

GLICOTOXINAS

As glicotoxinas (AGEs – Advanced Glycation Endproducts) são substâncias que se encontram principalmente em produtos de origem animal, e que são aumentadas com o processo de cozinhado – também elas fazem parte do arsenal cancerígeno do fumo de tabaco.12 Uma vez que promovem o stress oxidativo e a inflamação, estão relacionadas com a incidência de múltiplas doenças crónicas.13,14 Os alimentos de origem vegetal, por sua vez, contêm poucas glicotoxinas mesmo depois de cozinhados.15Produtos de origem animal, uma vez mais, a contribuir para a intoxicação, desta vez com glicotoxinas.

ÁCIDO SIÁLICO – NEU5Gc

O ácido siálico (Neu5Gc – ácido N- glicolilneuramínico) é uma substância que o corpo humano não produz, mas que é produzida por animais de consumo. Consequentemente, quando é introduzida no organismo a partir da dieta omnívora, incita uma reacção inflamatória que pode estar associada à doença cardiovascular e ao cancro.16 Apesar de a gordura saturada ser a explicação usual para o aumento do risco de doenças crónicas em não-vegetarianos, há estudos indicativos de que os anticorpos para o Neu5Gc também podem estar implicados.17 As dietas convencionais, inclusas de carne e lacticínios, conduzem à ingestão de aproximadamente 10 mg de Neu5Gc por dia.18

Carne e lacticínios = Neu5Gc = Inflamação e reacções imunitárias = Cancro e doença cardiovascular?

ÁCIDO ARAQUIDÓNICO

O ácido araquidónico é uma substância fundamental para regulação de processos inflamatórios, contudo, o organismo humano produz todo o ácido araquidónico de que necessita, e o seu consumo adicional – proveniente da ingestão do corpo de outros animais – sobre-sinaliza a inflamação no organismo humano. Em consequência, pode promover um largo espectro de patologias que incluem doença cardiovascular e cancro.19,20,21 As plantas encontram-se desprovidas do risco devido à ausência de ácido araquidónico.

22 Carnes “magras” e ovos: fontes excepcionais de ácido araquidónico.

COLINA, CARNITINA E ÓXIDO DE TRIMETILAMINA

A colina e a carnitina são compostos abundantes nos produtos de origem animal, cujo metabolismo, mediado por bactérias intestinais, conduz à formação de óxido de trimetilamina, uma substância que incita uma resposta inflamatória promotora da doença cardiovascular e da carcinogénese. Em contrapartida, os alimentos de origem vegetal contêm quantidades reduzidas de colina e de carnitina, e a dieta vegetariana, ao contrário da omnívora, promove populações bacterianas que não processam eficazmente a conversão.23

Além disso, a colina encontra-se altamente concentrada nas células do cancro, o que indica a possibilidade de que as relações reportadas entre o consumo de carne, leite e ovos e a carcinogénese sejam atribuíveis, em parte, ao seu conteúdo de colina. Um estudo demonstrou que homens com os consumos mais elevados de colina tinham um risco 70% superior de desenvolver cancro da próstata letal.24

23 O metabolismo intestinal da carne produz óxido de trimetilamina, uma toxina que promove a doença cardiovascular e o cancro.

A insanidade das recomendações dietéticas convencionais verifica-se, também, pela inclusão de grupos alimentares que, apesar de não providenciarem quaisquer benefícios nutricionais exclusivos, são fontes de várias classes de substâncias cancerígenas, muitas das quais abundam no tabaco. 


1 – Stephen S Hecht. It is time to regulate carcinogenic tobacco-specific nitrosamines in cigarette tobacco. Cancer Prevention Research. May 7, 2014.
2 – Hughes R, Cross AJ, Pollock JR, Bingham S. Dose-dependent effect of dietary meat on endogenous colonic N-nitrosation. Carcinogenesis. 2001 Jan;22(1):199-202.
3 – Haorah J, Zhou L, Wang X, Xu G, Mirvish SS. Determination of total N-nitroso compounds and their precursors in frankfurters, fresh meat, dried salted fish, sauces, tobacco, and tobacco smoke particulates. J Agric Food Chem. 2001 Dec;49(12):6068-78.
4 – Instituto Nacional de Estatística, I.P (2015) Estatísticas Agrícolas 2014.
5 – Gratz SW, Wallace RJ, El-Nezami HS. Recent Perspectives on the Relations between Fecal Mutagenicity, Genotoxicity, and Diet. Front Pharmacol. 2011 Mar 3;2:4.
6 – Chemicals in Meat Cooked at High Temperatures and Cancer Risk, National Cancer Institute at the National Institutes of Health.
7 – Takayama S. Improving cancer treatment, from the standpoint of basic cancer research. Gan To Kagaku Ryoho. 1987 May;14(5 Pt 2):1367-71.
8 – Lauber SN, Gooderham NJ. The cooked meat-derived mammary carcinogen 2-amino-1-methyl-6-phenylimidazo[4,5-b]pyridine promotes invasive behaviour of breast cancer cells. Toxicology. 2011 Jan 11;279(1-3):139-45.
9 – DeBruin LS, Martos PA, Josephy PD. Detection of PhIP (2-amino-1-methyl-6-phenylimidazo[4,5-b]pyridine) in the milk of healthy women. Chem Res Toxicol. 2001 Nov;14(11):1523-8.
10 – Kassie F, Lhoste EF, Bruneau A, Zsivkovits M, Ferk F, Uhl M, Zidek T, Knasmüller S. Effect of intestinal microfloras from vegetarians and meat eaters on the genotoxicity of 2-amino-3-methylimidazo[4,5-f]quinoline, a carcinogenic heterocyclic amine. J Chromatogr B Analyt Technol Biomed Life Sci. 2004 Mar 25;802(1):211-5.
11 – Sugimura T. Overview of carcinogenic heterocyclic amines. Mutat Res. 1997 May 12;376(1-2):211-9.
12 – Palimeri S, Palioura E, Diamanti-Kandarakis E. Current perspectives on the health risks associated with the consumption of advanced glycation end products: recommendations for dietary management. Diabetes Metab Syndr Obes. 2015 Sep 1;8:415-26.
13 – Vlassara H1, Cai W, Crandall J, Goldberg T, Oberstein R, Dardaine V, Peppa M, Rayfield EJ. Inflammatory mediators are induced by dietary glycotoxins, a major risk factor for diabetic angiopathy. Proc Natl Acad Sci U S A. 2002 Nov 26;99(24):15596-601.
14 – Perrone L, Grant WB. Observational and ecological studies of dietary advanced glycation end products in national diets and Alzheimer’s disease incidence and prevalence. J Alzheimers Dis. 2015;45(3):965-79.
15 – Uribarri J, Woodruff S, Goodman S, Cai W, Chen X, Pyzik R, Yong A. Advanced glycation end products in foods and a practical guide to their reduction in the diet. J Am Diet Assoc. 2010 Jun;110(6):911-16.e12.
16 – Samraj AN, Läubli H, Varki N, Varki A. Involvement of a non-human sialic Acid in human cancer. Front Oncol. 2014 Feb 19;4:33.
17 – Ajit Varki. Uniquely human evolution of sialic acid genetics and biology. PNAS May 11, 2010 vol. 107 no. Supplement 2 8939-8946
18 – Pham T, Gregg CJ, Karp F, Chow R, Padler-Karavani V, Cao H, Chen X. Evidence for a novel human-specific xeno-auto-antibody response against vascular endothelium. Blood. 2009 Dec 10;114(25):5225-35.
19 – Harizi H, Corcuff JB, Gualde N. Arachidonic-acid-derived eicosanoids: roles in biology and immunopathology. Trends Mol Med. 2008 Oct;14(10):461-9.
20 – Beezhold BL, Johnston CS. Restriction of meat, fish, and poultry in omnivores improves mood: a pilot randomized controlled trial. Nutr J. 2012 Feb 14;11:9.
21 – Silva PS, Olsen A, Christensen J, Schmidt EB, Overvaad K, Tjonneland A. An association between dietary arachidonic acid, measured in adipose tissue, and ulcerative colitis. Gastroenterology. 2010 Dec;139(6):1912-7.
22 – Food Sources of Arachidonic Acid. National Cancer Institute.
http://appliedresearch.cancer.gov/diet/foodsources/fatty_acids/table4.html
23 – Koeth RA, Wang Z, Levison BS, Buffa JA, Org E, Sheehy BT, Britt EB, Fu X. Intestinal microbiota metabolism of L-carnitine, a nutrient in red meat, promotes atherosclerosis. Nat Med. 2013 May;19(5):576-85.
24 – Richman EL, Kenfield SA, Stampfer MJ, Giovannucci EL, Zeisel SH, Willett WC. Choline intake and risk of lethal prostate cancer: incidence and survival. Am J Clin Nutr. 2012 Oct;96(4):855-63.
 

Leave a Reply