ARTIGOS

FITONUTRIENTES: FONTES VEGETAIS E ANIMAIS

Fitonutrientes Antioxidantes
Há mais de 100 000 tipos de substâncias químicas presentes nas plantas, conhecidas como fitonutrientes, que são responsáveis pela panóplia de cores, sabores, e efeitos benéficos.1 De entre os quais, o mais reconhecido reside na sua capacidade antioxidante, que neutraliza os danos oxidativos provocados pelos radicais livres causadores de morbidez e envelhecimento.

Os estilos de vida convencionais proporcionam uma sobrecarga oxidativa, a partir de uma dieta incompetente e da exposição a toxinas, que contribui para o desenvolvimento de patologias tais como a aterosclerose e o cancro, e tornam o consumo abundante fitoquímicos particularmente necessário para mitigar os malefícios.2,3,4 Porém, em oposição às plantas, os produtos animais não só se encontram virtualmente desprovidos de antioxidantes, mas são caracteristicamente pró-oxidativos. Uma análise de milhares de alimentos determinou que a média de conteúdo de antioxidantes em alimentos animais é de 12, com um máximo de 18 no fígado de boi almiscarado selvagem, enquanto a média em alimentos vegetais é de 1157, com um máximo de 289711 na baga amla.5 Esse facto corrobora a insensatez de fazer opções alimentares direccionadas para o consumo de produtos animais.

Poluição Antioxidantes Fitoquimicos O consumo de carne, peixe, lacticínios e ovos contribui para o stress oxidativo induzido pelos estilos de vida urbanizados.

Figado Amla Fitoquimicos AntioxidantesAo contrário das fontes animais, as fontes vegetais não só não contribuem, mas mitigam o stress oxidativo a partir de uma enorme variedade de fitoquímicos antioxidantes.

EXEMPLOS E PROPRIEDADES
DOS FITOQUÍMICOS

Uma das classes mais conhecidas de fitoquímicos são os carotenóides, que incluem o beta-caroteno, responsável pela característica cor de laranja das cenouras e por ser precursor da vitamina A. Outro carotenóide conhecido é o licopeno, responsável pela cor vermelha dos tomates e por grandes reduções no risco de cancro da próstata.6 A luteína e a zeaxantina também são carotenóides que o organismo utiliza para formar o pigmento ocular que protege as células fotorreceptoras dos danos provocados pela luz. A quantidade de pigmento está inversamente associada à incidência de degeneração macular, que é a principal causa de cegueira na terceira idade.7,8

Outra classe de fitoquímicos que contribuí significativamente para o sabor e cor dos frutos e vegetais são os flavonóides. Mais de 5000 estão descritos,9 e incluem nomes como a naringina, que se encontra na laranja, a tangeretina, que se encontra na tangerina, ou as antocianidinas, que conferem a cor negra às amoras. O consumo de flavonóides induz reduções, que podem ir até aos 70%, no risco de diversos tipos de cancro.10,11,12,13

O ácido fítico – um fitoquímico que se encontra presente em feijões, cereais e vegetais – apesar de ser comummente difamado por uma alegada capacidade de comprometer a absorção de determinados nutrientes, demonstra benefícios fisiológicos tão significativos que foi proposto ser reconhecido como uma vitamina.14 Possui uma actividade antioxidante, anti-inflamatória e favorecedora da imunidade15 e demonstrou-se que actua proveitosamente em todos os estados condutores da carcinogénese,16 permitindo que as células cancerígenas progridam para que estrutural e comportamentalmente se pareçam com células normais.17,18,19

Os organosulfidos são uma classe de fitoquímicos presente em vegetais como a couve e o brócolo, que inclui compostos como os glucosinolatos, o sulforafano e o índole-3-carbinol. Possuem propriedades fungicidas, bactericidas, e antioxidantes, e provocam reduções dramáticas na incidência de diversas doenças degenerativas.20,21,22,23,24 A alicina – um organosulfido característico do alho – promove a produção de glutatião, um dos antioxidantes mais potentes do organismo. Um estudo determinou que, de todos os vegetais, o extracto de alho era o inibidor mais potente da proliferação de células tumorais.25,26

O fitoquímico resveratrol, que pertence à classe dos polifenóis, é responsável pela conotação positiva atribuída ao vinho tinto e possui efeitos cardioprotectores e anticancerígenos.27

Por sua vez, os fitoesteróis, que se encontram em algumas sementes e legumes, reduzem significativamente o colesterol ao competirem com a sua absorção, e também exercem efeitos benéficos na redução do risco de alguns tipos de cancro.28,29,30

envision-optical-eye-schematicOs fitoquímicos luteína e zeaxantina, que se encontram principalmente nas verduras, compõe o pigmento ocular que ao filtrar a luz solar previne a perda de visão.

SUPLEMENTOS ANTIOXIDANTES?

As propriedades dos fitoquímicos, assim como de outras vitaminas antioxidantes, não conseguem ser replicadas na forma suplementar. Por exemplo, foi demonstrado que a suplementação não faz aumentar a capacidade antioxidante da pele, necessária para prevenir danos característicos do envelhecimento.31 A suplementação também pode comprometer a adaptação à oxidação resultante do exercício físico, o que prejudica a melhoria metabólica.32 Além disso, as frutas e os vegetais desempenham uma acção muito mais eficaz do que os antioxidantes sintéticos. Bastam 100 gramas de maçã para exercer o poder antioxidante equivalente a 1.5 gramas de vitamina C em forma de suplemento, apesar de a maçã conter apenas 5.7 miligramas de vitamina C – o que torna o alimento 263 vezes mais potente do que a vitamina C isolada. Isso deve-se à acção sinergética desempenhada por centenas de fitoquímicos presentes na matriz natural.33

all-fruits-wallpaperAs plantas providenciam uma farmacopeia na prevenção e reversão da doença.


1 – Dean Ornish. Mostly Plants. American Journal of Cardiology, October 1, 2009, Issue 7, Pages 957-958 October 1, 2009 Volume 104, Issue 7, Pages 957–958
2- Burton-Freeman B, Linares A, Hyson D, Kappagoda T. Strawberry modulates LDL oxidation and postprandial lipemia in response to high-fat meal in overweight hyperlipidemic men and women. J Am Coll Nutr. 2010 Feb;29(1):46-54.
3 – Britt Burton-Freeman. Postprandial metabolic events and fruit-derived phenolics: a review of the science. British Journal of Nutrition (2010), 104, S1-S14
4 – Prior RL, Gu L, Wu X, Jacob RA, Sotoudeh G, Kader AA, Cook RA. Plasma antioxidant capacity changes following a meal as a measure of the ability of a food to alter in vivo antioxidant status. J Am Coll Nutr. 2007 Apr;26(2):170-81.
5 – Carlsen MH, Halvorsen BL, Holte K, Bøhn SK, Dragland S, Sampson L. The total antioxidant content of more than 3100 foods, beverages, spices, herbs and supplements used worldwide. Nutr J. 2010 Jan 22;9:3.
6 – Heber D, Lu QY. Overview of mechanisms of action of lycopene. Exp Biol Med (Maywood). 2002 Nov;227(10):920-3.
7 – Krinsky NI, Landrum JT, Bone RA. Biologic mechanisms of the protective role of lutein and zeaxanthin in the eye. Annu Rev Nutr. 2003;23:171-201.
8 – Lyle BJ, Mares-Perlman JA, Klein BE, Klein R, Greger JL. Antioxidant intake and risk of incident age-related nuclear cataracts in the Beaver Dam Eye Study. Am J Epidemiol. 1999 May 1;149(9):801-9.
9 – Ross JA, Kasum CM. Dietary flavonoids: bioavailability, metabolic effects, and safety. Annu Rev Nutr. 2002;22:19-34. Epub 2002 Jan 4.
10 – De Stefani E, Deneo-Pellegrini H, Mendilaharsu M, Ronco A. Diet and risk of cancer of the upper aerodigestive tract–I. Foods. Oral Oncol. 1999 Jan;35(1):17-21.
11 – Garcia-Closas R, Gonzalez CA, Agudo A, Riboli E. Intake of specific carotenoids and flavonoids and the risk of gastric cancer in Spain. Cancer Causes Control. 1999 Feb;10(1):71-5.
12 – Arts IC, Jacobs DR Jr, Gross M, Harnack LJ, Folsom AR. Dietary catechins and cancer incidence among postmenopausal women: the Iowa Women’s Health Study (United States). Cancer Causes Control. 2002 May;13(4):373-82.
13 – Yamagishi M, Natsume M, Osakabe N, Nakamura H, Furukawa F, Imazawa T, Nishikawa A, Hirose M. Effects of cacao liquor proanthocyanidins on PhIP-induced mutagenesis in vitro, and in vivo mammary and pancreatic tumorigenesis in female Sprague-Dawley rats. Cancer Lett. 2002 Nov 28;185(2):123-30.
14 – J. Singh and P. Basu, “Non-Nutritive Bioactive Compounds in Pulses and Their Impact on Human Health: An Overview,” Food and Nutrition Sciences, Vol. 3 No. 12, 2012, pp. 1664-1672.
15 – Abulkalam M. Shamsuddin. Anti-cancer function of phytic acid. International Journal of Food Science & Technology Volume 37, Issue 7, pages 769–782, October 2002
16 – Vucenik I, Shamsuddin AM. Cancer inhibition by inositol hexaphosphate (IP6) and inositol: from laboratory to clinic. J Nutr. 2003 Nov;133(11 Suppl 1):3778S-3784S.
17 – Vucenik I, Shamsuddin AM. Protection against cancer by dietary IP6 and inositol. Nutr Cancer. 2006;55(2):109-25.
18 – Abulkalam M. Shamsuddin, Ivana Vucenik, Katharine E. Cole. IP6: A novel anti-cancer agent. Life Sciences Volume 61, Issue 4, 20 June 1997, Pages 343–354
19 – Greiner R, Konietzny U, Jany K-D. Phytate – an undesirable constituent of plant-based foods? Journal für Ernährungsmedizin 2006; 8 (3), 18-28
20 – Grubbs CJ, Steele VE, Casebolt T, Juliana MM, Eto I, Whitaker LM. Chemoprevention of chemically-induced mammary carcinogenesis by indole-3-carbinol. Anticancer Res. 1995 May-Jun;15(3):709-16.
21 – T. Kahlon, M. Chapman, G. Smith. In vitro binding of bile acids by spinach, kale, brussels sprouts, broccoli, mustard greens, green bell pepper, cabbage and collards. Food Chemistry 2007, Volume 100: , 1531-1536
22 – Lenzi M, Fimognari C, Hrelia P. Sulforaphane as a promising molecule for fighting cancer. Cancer Treat Res. 2014;159:207-23.
23 – Tarozzi A, Angeloni C, Malaguti M, Morroni F, Hrelia S, Hrelia P. Sulforaphane as a potential protective phytochemical against neurodegenerative diseases. Oxid Med Cell Longev. 2013;2013:415078.
24 – Fahey JW, Zalcmann AT, Talalay P. The chemical diversity and distribution of glucosinolates and isothiocyanates among plants. Phytochemistry. 2001 Jan;56(1):5-51.
25 – Chan JY, Yuen AC, Chan RY, Chan SW. A review of the cardiovascular benefits and antioxidant properties of allicin. Phytother Res. 2013 May;27(5):637-46.
26 – Dominique Boivin,  Sylvie Lamy, Simon Lord-Dufour. Antiproliferative and antioxidant activities of common vegetables: A comparative study. Food Chemistry Volume 112, Issue 2, 15 January 2009, Pages 374–380
27 – Aggarwal BB, Bhardwaj A, Aggarwal RS, Seeram NP, Shishodia S, Takada Y. Role of resveratrol in prevention and therapy of cancer: preclinical and clinical studies. Anticancer Res. 2004 Sep-Oct;24(5A):2783-840.
28 – Mendilaharsu M, De Stefani E, Deneo-Pellegrini H, Carzoglio J, Ronco A. Phytosterols and risk of lung cancer: a case-control study in Uruguay. Lung Cancer. 1998 Jul;21(1):37-45.
29 – Ostlund RE Jr. Phytosterols and cholesterol metabolism. Curr Opin Lipidol. 2004 Feb;15(1):37-41.
30 – De Stefani E, Boffetta P, Ronco AL, Brennan P. Plant sterols and risk of stomach cancer: a case-control study in Uruguay. Nutr Cancer. 2000;37(2):140-4.
31 – Meinke MC, Darvin ME, Vollert H, Lademann J.Bioavailability of natural carotenoids in human skin compared to blood. Eur J Pharm Biopharm. 2010 Oct;76(2):269-74.
32 – Ristow M, Zarse K, Oberbach A, Klöting N, Birringer M, Kiehntopf M, Stumvoll M, Kahn CR, Blüher M.Antioxidants prevent health-promoting effects of physical exercise in humans.Proc Natl Acad Sci U S A. 2009 May 26;106(21):8665-70.
33 – Eberhardt MV, Lee CY, Liu RH. Antioxidant activity of fresh apples. Nature. 2000 Jun 22;405(6789):903-4.

 

Leave a Reply