ARTIGOS

FIBRA

Fezes pequenas, hospitais grandes. Dennis Burkitt

A fibra é produzida exclusivamente por plantas e é composta por várias substâncias indigeríveis da célula vegetal, de entre as quais a celulose. A maioria da população ocidental não atinge os consumos mínimos recomendados de fibra devido à predominância dietética de carne, lacticínios, ovos e alimentos processados, o que proporciona um espectro de disfunções preocupante:

OBSTIPAÇÃO, DIVERTICULOSE, HEMORRÓIDAS, HÉRNIAS

Uma vez que a fibra constitui uma percentagem significativa da massa das fezes, estimula, facilita e fortalece a função intestinal. Dietas pobres em fibra comprometem a formação de massa fecal suficiente para uma evacuação saudável, o que conduz à obstipação. Os consumidores de 30 ou mais gramas de fibra têm trânsitos intestinais inferiores a 75 horas, enquanto os que consomem menos têm trânsitos de até 124 horas – 5 dias.A grande pressão necessária para evacuar pequenas quantidades de excrementos sólidos, resultantes da deficiência de fibra, pode conduzir ao desenvolvimento de diverticulose (bolsas intestinais lesionadas) hemorróidas (lesões nos vasos sanguíneos adjacentes ao ânus) e hérnia de hiato (projecção do estômago para a cavidade toráxica.)2,3,4

CANCRO, DOENÇA CARDIOVASCULAR, OBESIDADE

A impactação digestiva resultante do consumo insuficiente de fibra conduz à sobre-exposição intestinal às toxinas mutagénicas das fezes, o que está relacionado com doenças tais como a apendicite e o cancro do cólon.5,6 Essas mesmas toxinas podem ser distribuídas pelo corpo – por exemplo, até ao tecido mamário – e influenciar o desenvolvimento cancerígeno noutros órgãos.A fibra também possui a capacidade de absorver a produção de ácido biliar, de colesterol, de estrogénio e de toxinas, e enviá-la para expulsão, o que impede a sua introdução na circulação sanguínea e previne o desenvolvimento de doença cardiovascular e de cancro.8,9 Outra das razões explicativas para o risco reduzido de doenças crónicas resultante do consumo elevado de fibra reside na sua acção prebiótica, isto é, uma vez que resiste à acção digestiva primária, a fibra serve de alimento às bactérias intestinais boas, ou probióticas.10 A fermentação intestinal da fibra conduz à produção de compostos como o propionato e o butirato, que possuem efeitos hipocolesterolémicos, anti-inflamatórios, anticancerígenos e supressores do apetite.11,12,13 O facto de que a fibra regula a absorção do conteúdo alimentar e é desprovida de calorias, previne a incidência da obesidade.14 Os estudos demonstram que consumos mais elevados de fibra resultam em maiores perdas de peso e em diminuições espontâneas do consumo de calórico.15 Expectavelmente, em relação aos omnívoros, os vegetarianos usufruem de vantagens de saúde distintas devido ao aporte superior de fibra.16,17,18

Numa sociedade que acredita, essencialmente, que o ser humano evoluiu como um carnívoro, as constrições resultantes do consumo de carne são epidémicas…


1 – Gear JS, Brodribb AJ, Ware A, Mann JI.  Fibre and bowel transit times. Br J Nutr. 1981 Jan;45(1):77-82.
2 – Wen Boynton, Martin Floch. New strategies for the management of diverticular disease: insights for the clinician. Therap Adv Gastroenterol. 2013 May; 6(3): 205–213.
3 – Alonso-Coello P, Mills E, Heels-Ansdell D, López-Yarto M, Zhou Q, Johanson JF, Guyatt G. Fiber for the treatment of hemorrhoids complications: a systematic review and meta-analysis. Am J Gastroenterol. 2006 Jan;101(1):181-8.
4 – DP Burkitt, PA James. Low-residue diets and hiatus hernia. Lancet. 1973 Jul 21;2(7821):128-30.
5 – Peters U, Sinha R, Chatterjee N, Subar AF, Ziegler RG, Kulldorff M, Bresalier R. Dietary fibre and colorectal adenoma in a colorectal cancer early detection programme. Lancet. 2003 May 3;361(9368):1491-5.
6 – Cummings JH, Bingham SA, Heaton KW, Eastwood MA. Fecal weight, colon cancer risk, and dietary intake of nonstarch polysaccharides (dietary fiber). Gastroenterology. 1992 Dec;103(6):1783-9.
7 – Micozzi MS, Carter CL, Albanes D, Taylor PR, Licitra LM. Bowel function and breast cancer in US women. Am J Public Health. 1989 Jan;79(1):73-5.
8 – Goldin BR, Adlercreutz H, Gorbach SL, Warram JH, Dwyer JT, Swenson L, Woods MN. Estrogen excretion patterns and plasma levels in vegetarian and omnivorous women. N Engl J Med. 1982 Dec 16;307(25):1542-7.
9 – Jenkins DJ, Kendall CW, Popovich DG, Vidgen E, Mehling CC, Vuksan V. Effect of a very-high-fiber vegetable, fruit, and nut diet on serum lipids and colonic function. Metabolism. 2001 Apr;50(4):494-503.
10 – Joanne Slavin. Fiber and Prebiotics: Mechanisms and Health Benefits. Nutrients. 2013 Apr; 5(4): 1417–1435.
11 – Meijer K, de Vos P, Priebe MG. Butyrate and other short-chain fatty acids as modulators of immunity: what relevance for health? Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2010 Nov;13(6):715-21.
12 – Scharlau D, Borowicki A, Habermann N, Hofmann T, Klenow S, Miene C. Mechanisms of primary cancer prevention by butyrate and other products formed during gut flora-mediated fermentation of dietary fibre. Mutat Res. 2009 Jul-Aug;682(1):39-53.
13 – Arora T, Sharma R, Frost G. Propionate. Anti-obesity and satiety enhancing factor? Appetite. 2011 Apr;56(2):511-5.
14 – Slavin JL. Dietary fiber and body weight. Nutrition. 2005 Mar;21(3):411-8.
15- Stevens J. Does dietary fiber affect food intake and body weight? J Am Diet Assoc. 1988 Aug;88(8):939-42, 945.
16 – Burr ML, Sweetnam PM. Vegetarianism, dietary fiber, and mortality. Am J Clin Nutr. 1982 Nov;36(5):873-7.
17 – Marian Glick-Bauer, Ming-Chin Yeh. The Health Advantage of a Vegan Diet: Exploring the Gut Microbiota Connection. Nutrients. 2014 Nov; 6(11): 4822–4838.
18 – Hippe B, Zwielehner J, Liszt K, Lassl C, Unger F, Haslberger AG.Quantification of butyryl CoA:acetate CoA-transferase genes reveals different butyrate production capacity in individuals according to diet and age. FEMS Microbiol Lett. 2011 Mar;316(2):130-5.

Leave a Reply