Esta espécie de alimentos (frutos e farináceos) é a mais adequada ao consumo do homem, como é provado por analogia, homens selvagens, primatas, a estrutura da boca, do estômago e das mãos. Carl Von Linné1 – Fundador do Sistema Taxonómico.
As adaptações naturais são a marca evolutiva dos organismos, de entre as quais, as adaptações dietéticas – devido à sua importância no processamento e metabolização de tipos de alimentos especificos – desempenham uma influência primordial na sua caracterização. Assim como uma ferramenta necessita de um tipo de desenho para desempenhar determinadas funções, também um corpo depende de atributos específicos para cumprir o tipo de actividade necessária para a sua subsistência dietética. Por exemplo, um tigre possui instintos, velocidade, garras e dentes que lhe permitem capturar e devorar animais de grande porte; um papa-formigas tem um focinho longo e uma língua comprida, que penetra nos buracos dos formigueiros; e uma girafa consegue usufruir de uma gama exclusiva de folhas no topo das árvores devido à altura do seu pescoço.
Diferentes particularidades físicas são adaptações a diferentes tipos de alimentos, com a correspondência nutricional adequada para a espécie em questão. Isso indica que, o estudo das adaptações que caracterizam uma espécie, permite determinar o tipo de dieta com a qual está biologicamente compatibilizada. Além disso, o tipo de adaptações partilhadas por um conjunto de organismos tende a revelar, não só, a sua proximidade biológica, mas, também, a necessidade de condições dietéticas semelhantes. Uma vez que dietas diferentes requerem estruturas diferentes para a sua obtenção e digestão, animais com dietas semelhantes necessitam, implicitamente, de estruturas de órgãos análogas, através da análise das quais é possível obter uma indicação dos requisitos nutricionais. A partir destes princípios, a eventualmente desconhecida dieta de uma espécie, poderia ser parcialmente discernida ao identificar a dieta dos animais com as características biológicas equivalentes às da espécie em questão. Por exemplo, no caso dos gatos, os atributos funcionais comuns ao grupo dos felídeos, indicam que a tipologia dietética é equivalente.
A evolução humana proporcionou-se mediante esses mesmos desígnios – com uma fisiologia resultante da adaptação ao tipo de dieta que influenciou a sua existência mais significativamente. Taxonomicamente, a espécie humana está classificada como Homo sapiens, e insere-se no grupo biológico dos primatas antropóides – no qual a dieta é, geralmente, reconhecida como o parâmetro mais importante subjacente à maioria das características físicas, comportamentais e ecológicas, e onde a obtenção de alimentos é o principal objectivo das actividades diárias.2 Essa inserção revela semelhanças emergentes de uma extraordinária irmandade genética, que sublinha a importância de determinados princípios dietéticos para o ser humano.
Os tecelões de Darwin são um dos exemplos mais famosos da influência das adaptações dietéticas na caracterização das espécies.
OS HUMANOS SÃO PRIMATAS
A proximidade evolutiva do ser humano com outros membros da família dos grandes primatas – que incluem os chimpanzés, os bonobos, os gorilas e os orangotangos – é revelada por ancestrais comuns e por um espectro de similaridades que os tornam modelos óbvios para aperfeiçoar o entendimento sobre a própria biologia humana. A comparação entre os humanos e outros primatas revela que as características consideradas distintamente humanas são, de facto, variações de traços tipicamente primatas, com os quais exibem diferenças de grau, não de tipo.3 Os chimpanzés e os bonobos encontram-se particularmente próximos dos humanos, com uma similaridade genética de 98.8%, seguidos pelos gorilas e os orangotangos.4 Possuem capacidades cognitivas extraordinárias que lhes permitem comunicar por computador, usar linguagem gestual, resolver problemas complexos e fabricar ferramentas. As semelhanças entre os chimpanzés, os bonobos e os humanos são tão óbvias que, seguindo padrões de classificação taxonómicos estritamente lineares, teria que haver uma fusão do género Pan com o género Homo, com a proposta classificação: Homo sapiens (humanos), Homo troglodytes (chimpanzé) e Homo paniscus (bonobo). Biologicamente, o homem é o terceiro chimpanzé.5
A proximidade entre os humanos e os chimpanzés é de tal ordem que já houve experiências com o intuito de tentar produzir híbridos.6
INDICAÇÕES DIETÉTICAS PRIMATAS
A história evolutiva dos primatas começou há 56 milhões de anos, com o Carpolestes, um pequeno mamífero que evitou competir com os roedores no solo ao explorar uma nova diversidade de alimentos arborícolas – frutos, flores, brotos de folhas e néctar – que começou a aparecer no Paleoceno.7 Foi a partir dessa relação simbiótica – na qual as árvores beneficiam com a dispersão de sementes e os animais com a obtenção de alimento – que se desenvolveu o grupo biológico onde se inserem os humanos. Essas tendências dietéticas encontram-se estritamente apuradas na actualidade: com a excepção dos gorilas, onde a folhagem assume um papel preponderante em algumas populações das montanhas, os chimpanzés, os bonobos e os orangotangos, baseiam a sua dieta, maioritariamente, em frutos.8 Por essa razão, a classificação dietética dos grandes primatas insere-se no frugivorismo, uma vez que dependem principalmente de frutos para a obtenção nutricional – de facto, é esse o recurso alimentar que define as suas adaptações principais.
A dieta arborícola do Carpolestes simpsoni originou a evolução dos primatas.
O mundo da nutrição fala de “tudo em moderação” em vez de “plantas em abundância” e está repleto de personagens que advogam dietas carnívoras… escandalosamente, supõe que essas suposições são baseadas em princípios evolutivos…
FRUTAS E VEGETAIS E SAÚDE
Um corpo monumental de evidência indica que o consumo de frutas e vegetais é um pilar insubstituível da nutrição humana saudável. O consumo de fruta está associado a uma redução significativa da mortalidade por doença cardiovascular e de todas as causas combinadas.9 A análise de causas de morte mais compreensiva, até à data, indicou que o principal factor de risco consistia num consumo insuficiente de fruta, responsável por 4.9 milhões de mortes anuais.10 O valor em vidas salvas pelo aumento do consumo diário de frutas e vegetais em apenas uma porção adicional, ou cerca de meio copo por dia, seria de mais de 2.7 triliões de euros.11 Se os adultos mais velhos aumentassem a despesa em frutas e vegetais em cercas de 30 cêntimos diários, teriam menos 12% de mortalidade de todas as causas.12 Uma investigação indicou que, aqueles que não consomem fruta, vivem menos 19 meses do que os que consomem 1 peça de fruta por dia; e os que consomem 3 porções de vegetais por dia vivem mais 32 meses do que os que nunca consomem vegetais.13 A ingestão diária de fruta tem um efeito positivo na sobrevivência a longo prazo, independentemente de outros factores de risco tradicionais, tais como o fumar, a hipertensão e o colesterol elevado, e providencia contribuições únicas no controlo do peso corporal.14,15 Há uma clara associação inversa entre o consumo de fruta e o sobrepeso,16 e foi demonstrado, também, que a frutose, presente na fruta, proporciona perdas de peso significativamente superiores às de uma dieta equivalente desprovida de frutose.17 Num estudo de uma dieta maioritariamente constituída por fruta, com um consumo extraordinariamente elevado de frutose, os investigadores reportaram nenhum efeito adverso e benefícios no peso corporal, pressão sanguínea, insulina e níveis de lípidos.18 Por outro lado, o consumo de carne está consistentemente associado com o desenvolvimento de uma panóplia de afecções crónicas, de entre as quais, doença cardiovascular, diabetes, cancro e obesidade.19,20,21
Durante o Mioceno, um período com mais de 20 milhões de anos, foram desenvolvidas as adaptações dietéticas fortemente herbívoras que caracterizam o grupo biológico onde se insere o ser humano. As conjecturas imaginativas dos promotores de dietas “paleo” deploram o bom senso e a evidência.