As doenças inflamatórias do tracto digestivo mais comuns são a doença de Crohn – que pode afectar desde a boca até ao ânus – e a Colite Ulcerativa – que afecta o cólon e o recto. Há evidência forte que suporta a implicação causal do consumo de carne, lacticínios e ovos:
PROTEÍNA ANIMAL
A proteína animal é um dos factores de risco mais solidamente relacionados com a incidência de doença de Crohn,1 provavelmente, devido a possuir um conteúdo elevado de aminoácidos que contêm sulfureto, que conduzem à formação de sulfureto de hidrogénio – uma substância que exerce um efeito tóxico sobre a mucosa intestinal, e interfere com a produção de agentes anti-inflamatórios.2,3,4 A administração de uma dieta semi-vegetariana rica em hidratos de carbono, que contém menos de uma dose de carne por semana, é o tratamento mais eficaz reportado na literatura científica, capaz de uma remissão de 100% ao fim de um ano.5 Em pacientes com colite ulcerativa, os consumidores de maiores quantidades de carne vermelha e processada têm um risco de relapso cinco vezes superior em relação aos consumidores de menores quantidades.6 À semelhança da doença de Crohn, a redução dietética de alimentos ricos em aminoácidos que contêm sulfureto resulta na remoção completa de relapsos ou ataques.7 Por sua vez, a proteína vegetal providencia uma formação muito mais baixa de sulfureto, o que ajuda a explicar a associação inversa entre o seu consumo e a incidência de colite ulcerativa.8,4
GORDURA
Dietas ricas em colesterol e gordura, em particular a de origem animal, também estão implicadas no desenvolvimento de inflamação do tracto digestivo.9,10 O mecanismo pode estar relacionado com o comprometimento da permeabilidade e função da parede intestinal, e pela possibilidade de conversão dos ómegas 6 em agentes inflamatórios.11,12
BACTÉRIAS
Também há evidência de que a doença possa ter uma origem infecciosa. O candidato plausível é o Micobacterium paratuberculosis, uma bactéria que em animais causa a doença de Johne, uma afecção intestinal diarreica evocativa da doença de Crohn. A doença de Johne ocorre em vacas leiteiras e a bactéria viável, que pode ser encontrada no leite, não é confiavelmente morta pela pasteurização.13
FRUTAS E VEGETAIS
Em oposição ao consumo de produtos de origem animal, o consumo de frutas e vegetais demonstra efeitos protectores contundentes, o que se pode dever ao seu conteúdo de fibra – que beneficia a saúde digestiva de uma forma multifacetada – e de antioxidantes – que contrariam o stress oxidativo originário da inflamação intestinal.14,15,16
Uma dieta pobre em carne, rica em hidratos de carbono e baixa em gordura, é o tratamento mais eficaz para a inflamação intestinal alguma vez reportado na literatura científica .
10 – S Reif, I Klein, F Lubin, M Farbstein, A Hallak, and T Gilat. Pre-illness dietary factors in inflammatory bowel disease.Gut. 1997 Jun; 40(6): 754–760.
11 – Yan Y. Lam, Connie W. Y. Ha, Craig R. Campbell, Andrew J. Mitchell, Anuwat Dinudom, Jan Oscarsson, David I. Cook, Nicholas H. Hunt.Increased Gut Permeability and Microbiota Change Associate with Mesenteric Fat Inflammation and Metabolic Dysfunction in Diet-Induced Obese Mice. PLoS One. 2012; 7(3): e34233.
15 – Persson PG, Ahlbom A, Hellers G.Diet and inflammatory bowel disease: a case-control study.Epidemiology. 1992 Jan;3(1):47-52.
16 – Head K, Jurenka JS. Inflammatory bowel disease. Part II: Crohn’s disease–pathophysiology and conventional and alternative treatment options. Altern Med Rev. 2004 Dec;9(4):360-401.