Uma rapariga de 16 anos teve uma paragem cardiorrespiratória na escola. Ela tinha recentemente tentado perder peso utilizando uma dieta pobre em hidratos de carbono/rica em proteína. Durante a ressuscitação observou-se uma hipocaliemia severa. A examinação post mortem não revelou outras causas para a paragem cardíaca.1
Complicações como arritmias cardíacas, comprometimento da função da contracção cardíaca, morte súbita, osteoporose, danos renais, aumento do risco de cancro, impedimento de actividade física e anormalidades lipídicas podem ser todas relacionadas com a restrição de hidratos de carbono da dieta.2
A evidência indica inequivocamente que o ser humano está adaptado para consumir alimentos de origem vegetal, ricos em hidratos de carbono, e releva a sua imprescindibilidade na prevenção e reversão da doença. Por outro lado, continua a expor não apenas a inadequação, mas também a inescapável patogenicidade do consumo de produtos de origem animal. Apesar disso, a partir da fantasiação pré-histórica de pertencer a um papel predatório, surgem as grandes fraudes das dietas modernas: que declaram o consumo de animais como a chave na perda de peso e rota da saúde e ostracizam as calorias provenientes de plantas. Loucos de batas brancas, desestruturados por ignorância e movidos por ganância, popularizam traidoramente o produto da sua própria extorsão.
DIETAS POBRES EM HIDRATOS DE CARBONO: IMPLICAÇÕES METABÓLICAS
Apesar da grande variedade de nomes – assumidos meramente para saciar desígnios comerciais – esses planos dietéticos partilham um princípio nutricional comum: a redução dos hidratos de carbono e uma focalização em produtos de origem animal. Em consequência, produzem um deficit de glucose, que compromete o metabolismo eficaz de gordura (que queima na chama do hidrato de carbono). Isso conduz à produção de cetonas – um combustível de emergência com propriedades tóxicas, capaz de colmatar parcialmente a deficiência de glucose.3 Essa alternativa metabólica, conhecida como cetose, é um estado que acarreta menos-valias significativas, evitado pelo organismo, e que denota a adaptação para sobreviver em condições adversas. Nem mesmo animais carnívoros, como o gato ou o urso polar, entram em cetose, e a proteína que consomem é utilizada para produzir glucose em quantidades que impedem a cetose.4 Por sua vez, a geração de glucose a partir de proteína (gluconeogénese) é insuficiente para prevenir a cetose em humanos.
AS DIETAS DA MORTE
A fomentação do consumo de produtos de origem animal e a restrição de calorias de origem vegetal constitui um insulto às expectativas fisiológicas, ao induzir deficiências de diversos nutrientes essenciais e excessos de compostos patogénicos. Não surpreendentemente, as conclusões dos estudos são inequívocas: seguir uma dieta baseada em produtos animais aumenta drasticamente as hipóteses de morrer, não só de morte súbita, mas de todas as outras causas.
O consumo de dietas pobres em hidratos de carbono aumenta significativamente as hipóteses de morrer de todas as causas.5,6,7
AS DIETAS DO ENFARTE CARDÍACO
A dieta Atkins tipifica a popularidade e as consequências das dietas pobres em hidrato de carbono, e é a base a partir da qual muitas das outras foram copiadas. No seu livro, Robert Atkins afirmou que a sua dieta é ideal para perder peso e “tão marcadamente saudável para o coração.”8 Apesar disso, morreu com 117 kg muito provavelmente de enfarte cardíaco. De acordo com Patrick Fratellone, o seu cardiologista, em 2001 as suas artérias estavam 30 a 40% bloqueadas: “Bastante bom para um homem que comeu tanta gordura.” A sua mulher confirmou: “O Robert teve alguma progressão da sua doença coronária, nos últimos três anos de vida, incluindo novas obstruções.” Ela mencionou uma artéria secundária e um procedimento para remediar a situação, assim como o facto de ele tomar medicação para arritmias cardíacas.9 Esse desenlace é expectável perante o facto de que as dietas pobres em hidratos de carbono induzem um aumento marcado do colesterol sanguíneo num curto espaço de tempo, até em crianças.10,11 Em consequência, indivíduos que adoptam essas dietas são rapidamente atirados para a doença cardiovascular.12
Um estudo que ambicionava analisar os efeitos da alteração dietética em doentes cardiovasculares deparou-se com um número de participantes inscritos que decidiram adoptar uma dieta rica em proteína com o intuito de perder peso. Esses participantes acreditavam que iam melhorar a sua saúde no geral. Os resultados dos pacientes no grupo da dieta saudável demonstraram uma redução de cada uma das variáveis estudadas, com regressão tanto na extensão como na severidade da doença da artéria coronária – a recuperação de um miocárdio viável foi vista em 43.75% dos casos. Por sua vez, os indivíduos no grupo rico em proteína mostraram uma pioria das variáveis, com um aumento de 106% do colesterol, 14% dos marcadores pró-coagulatórios e 61% dos marcadores inflamatórios. Os resultados indicaram que o grupo na dieta saudável teve menos 22.9% de extensão total e menos 21.8% de severidade total da doença, enquanto que, no grupo rico em proteína, a progressão da extensão e severidade da doença cardiovascular foi documentada em cada um dos territórios vasculares, com mais 39.7% de extensão e mais 52% de severidade total da doença.13 Com base na evidência incontornável, “A Dieta do Enfarte Cardíaco” serviria adequadamente como título para qualquer um desses livros de dietas repulsivos que abundam nos supermercados. Mas esse é apenas um de entre muitos outros nomes que se adequam perfeitamente.
Para protegerem o império de Atkins, os detractores afirmaram que a sua doença cardíaca era uma arritmia provocada por um vírus. No entanto, os registos médicos, obtidos posteriormente pela Physicians Commite for Responsible Medicine, declaram MI (Myocardial Infarction – Enfarte do Miocárdio) CHF (Congestive Heart Failure – Insuficiência Cardíaca Congestiva) e HTN (Hypertention – Hipertensão.)
AS DIETAS DO CANCRO
“A Dieta do Cancro” – não por reverter, mas por o promover – uma vez que dietas ricas em proteína e pobres em hidratos de carbono produzem uma redução acentuada dos compostos protectores e um aumento dos danosos, o que é altamente favorecedor da carcinogénese.14 Maior disponibilidade de proteína, gordura e cetonas potencia todos os estados da carcinogénese.15
AS DIETAS DA DIABETES
Dietas pobres em hidratos de carbono e ricas em proteína animal contribuem marcadamente para o risco de desenvolver diabetes tipo II.16 A quantidade de gordura da dieta pobre em hidrato de carbono provoca resistência à insulina,17 enquanto que, a produção de cetonas é particularmente perigosa em doentes diabéticos uma vez que pode conduzir a cetoacidose diabética potencialmente fatal.18
AS DIETAS DA FALHA RENAL
E DAS PEDRAS NOS RINS
Dietas ricas em proteína podem resultar em doença renal crónica e são particularmente perigosas para quem já sofre de falha renal.19,20 Adicionalmente, o fornecimento da carga renal ácida aumenta o risco de formação de pedras.21,22
AS DIETAS DA ESTUPIDIFICAÇÃO
E DA RETARDAÇÃO
A restrição de hidrato de carbono provoca concentrações elevadas de cetonas no cérebro, que quando atingem os 2 a 5mM causam perturbações significativas nas concentrações de aminoácidos neurotransmissores chave.23 Foram demonstradas dificuldades de memória em consumidores de dietas pobres em hidratos de carbono, no ponto onde as reservas de glicogénio estão mais baixas.24 A performance em testes que requerem processamento e flexibilidade mental de ordem elevada é afectada adversamente pela dieta cetogénica.25 Além disso, uma dieta cetogénica prejudica a fertilidade materna e aumenta a susceptibilidade à cetoacidose fetal. A exposição pré-natal e pós-natal a uma dieta cetogénica resulta em alterações significativas na estrutura do cérebro neonatal e resulta em crescimento fisiológico retardado, o que pode ser acompanhado por mudanças funcionais e comportamentais posteriores.26
Segundo os autores, as dietas pobres em hidratos de carbono são a rota para a saúde, no entanto, só podem ser seguidas por pessoas saudáveis…
AS DIETAS DAS DEFICIÊNCIAS
E DA CEGUEIRA
Os indivíduos que seguem dietas hiperproteicas estão em risco elevado de consumos de vitaminas e minerais comprometidos, e foram reportadas várias deficiências que podem conduzir a beribéri, cegueira, falha cardíaca, etc..27,28,29
Perda de visão provocada pela dieta cetogénica.
AS DIETAS DA OSTEOPOROSE
O excesso de ácidos introduzido pelo consumo proteína acima dos níveis recomendados predispõe para perdas ósseas30 e para o risco de fractura da anca.31 Para além disso, as cetonas também são ácidas, o que exacerba a redução do PH do sangue, e acelera a excreção e a depleção de minerais alcalinos.32 Os pacientes cetogénicos exibem deficiência de vitamina D, cálcio, concentrações elevadas de hormonas paratiróidais e redução significativa da massa óssea.33
AS DIETAS DA DEGENERAÇÃO MUSCULAR
A fonte primária de substrato para a produção de glucose na ausência de hidrato de carbono são os aminoácidos derivados da dieta e da massa muscular.34 Por outro lado, a acidose metabólica crónica induzida pelo consumo de proteína animal e pela cetose também compromete a manutenção da massa magra, que se torna um substrato para a produção de glutamina, destinada a neutralizar a acidez.35
AS DIETAS DA OBSTIPAÇÃO
E DO MAU HÁLITO
A deficiência dietética de fibra e o excesso de gordura e proteína animal aumentam o risco de desordens gastro intestinais, tais como a obstipação, que, aliada à produção de cetonas – com o característico cheiro a acetona – contribui para o mau hálito e odor corporal.36,37
AS DIETAS DA BACTERIOSE
As potenciais consequências de consumir dietas incidentes em produtos de origem animal – extremamente ricas em bactérias – incluem infecções por uma enorme variedade de microorganismos patogénicos.38
AS DIETAS DA DISFUNÇÃO ERÉCTIL
A agressão cardiometabólica induzida pelas dietas hiperproteicas, conduz à redução do fluxo sanguíneo e prejudica a produção de óxido nítrico – que permite o relaxamento dos vasos sanguíneos. Em consequência, promove o desenvolvimento de disfunção eréctil.39 Há registos de que a adopção da dieta Atkins induziu impotência, que foi revertida por uma dieta rica em hidratos de carbono.40
O vermelho representa a profusão sanguínea normal, que é reduzida progressivamente no laranja, amarelo e, finalmente, no verde.13 É facilmente perceptível a implicação causal das dietas hiperproteicas no desenvolvimento de impotência sexual.
QUAL A POSIÇÃO DOS NUTRICIONISTAS?
Um estudo da Deco, que intervencionou poucas dezenas de consultas de nutrição, demonstrou a incompetência epidémica dos nutricionistas. Um estudo semelhante, em 2005, tinha chumbado mais de metade das consultas.
A resposta da Ordem dos Nutricionistas ao estudo da Deco revela a sua desplicência. Se estivesse realmente interessada em encontrar os responsáveis pela promoção de planos dietéticos aberrantes, bastaria olhar para baixo do próprio nariz.
Os nutricionistas certificados são os principais promotores de regimes alimentares altamente restritivos, que apontam os hidratos de carbono como os vilões na manutenção do peso corporal e da saúde.
A alimentação low-carb e a cetogênica não é compatível com a descrição deste artigo, uma vez que não se restringe ao consumo de proteína animal. A cetogênese é provocada por jejuns intermitentes, consumo de agentes cetônicos tais como o óleo de côco, e abundante ingestão de verduras, legumes, nozes e leguminosas, a maioria com baixo índice glicêmico. Veja o caso dos grandes sannyasins como Ramanuja, Madhva e (mais recentemente) Shankara de Kanchipuram; todos tinham um metabolismo cetogênico (só comiam 1 refeição por dia) e tiveram vida longeva e saudável.
O artigo não pressupõe que os malefícios da dieta cetogénica dependam do consumo exclusivo de proteína animal, mas sim da proporção elevada do seu consumo em detrimento de calorias de origem vegetal. Além disso, o consumo de uma refeição por dia não implica necessariamente o atingimento de um metabolismo cetogénico, uma vez que a cetose depende da restrição do hidrato de carbono e do esgotamento das reservas de glicogénico, não do número de refeições. De facto, indivíduos que consomem apenas uma refeição por dia tendem a ingerir o mesmo número de calorias do que individuos que consomem um número maior de refeições, apenas num espaço mais curto de tempo.