A doença cardiovascular é a principal causa de morte em países ocidentais, e a base da sua disfunção é a aterosclerose.1 O consumo de gordura saturada, trans e colesterol, substâncias primordiais em produtos de origem animal, promove a subida dos níveis de colesterol de baixa densidade (LDL), um factor que introduz caos na parede vascular.2,3,4,5,6,7 O LDL agrega-se à parede dos vasos sanguíneos, o que origina inflamação e formação de placa, cujo espessamento dificulta a circulação sanguínea – as características que tipificam a aterosclerose.3 Quando a placa se rompe – à semelhança de uma borbulha – liberta o conteúdo da lesão, o que pode conduzir a bloqueios na distribuição do sangue que conduzem à morte dos tecidos. Se o coração for afectado dá-se um enfarte cardíaco ou, no caso do cérebro, um acidente vascular cerebral.8 Estas são as conclusões resultantes de muitas décadas de investigação extensa.
“Uma vez que as gorduras trans são inevitáveis em dietas não vegan, para consumir 0% de energia seriam necessárias mudanças significativas nos padrões de consumo.”
E o “Mito do Colesterol”?
Actualmente, a noção de que o consumo de gordura saturada e de colesterol não exerce uma relação causal no desenvolvimento de aterosclerose foi largamente aceite por um público desesperado pela vindicação dos seus hábitos alimentares. Porém, há diversos pontos de evidência que corroboram solidamente a relação causal do consumo de carne, lacticínios e ovos no desenvolvimento de doença cardiovascular:
- Os processos que relacionam o consumo de gordura saturada, trans e colesterol com a produção de LDL e, consequentemente, com a aterosclerose, estão bem documentados na literatura científica.9,10
- A placa aterosclerótica é composta significativamente por colesterol.11
- Estudos cautelosos de alimentação controlada indicam claramente que consumir gordura saturada e colesterol conduz a aumentos dos níveis de LDL.12
- As populações que consomem dietas ricas em gordura saturada e colesterol possuem incidências elevadas de doença cardiovascular, em contraste com populações com os consumos mais baixos.13,14
- A redução da gordura saturada e do colesterol dietético conduz à diminuição da doença cardiovascular.15,16
- Animais herbívoros alimentados com gordura saturada e colesterol desenvolvem aterosclerose.17,18
A história de vida do “mocinho” revela detalhadamente que era um grande “bandido”.
Cada um dos símbolos dentro do gráfico – formulado pela National Academy of Sciences – é um trabalho científico. No seu conjunto, demonstra a enorme quantidade de evidência de que o consumo de colesterol – do qual os ovos são a principal fonte – aumenta de uma forma linear os níveis de colesterol sanguíneo.
O TRATAMENTO MAIS EFICAZ
O tratamento mais eficaz na prevenção e reversão da doença cardiovascular consiste na remoção da causa da doença, que passa pelo consumo de uma dieta vegetariana saudável.19,20 Os resultados são eficazes mesmo em pacientes com doença cardíaca avançada. Um estudo demonstrou que todos os participantes que mantiveram a dieta atingiram o objectivo de um colesterol abaixo dos 150 mg/dl e não voltaram a ter eventos coronários, ainda que, nos 8 anos anteriores, tivessem experienciado mais de 49 eventos, assim como intervenções de bypass ou angioplastias falhadas.21,22
Outro estudo indicou que, ao fim de 12 semanas, 74% dos doentes ficaram sem angina – dor no peito – e uns adicionais 9% passaram de angina limitante para suave, com melhorias significativas nos factores de risco cardíacos e na qualidade de vida. Foi concluído que as melhorias observadas reduzem drasticamente a necessidade de procedimentos cirúrgicos.23 Noutro estudo ainda, após 24 dias, os pacientes demonstraram um aumento médio de 44% na duração do exercício e de 55% na capacidade de trabalho desempenhado, com uma diminuição média de 20.5% do colesterol plasmático e de 91% na frequência de episódios de angina.24
Por outro lado, dietas ricas em proteína animal estão associadas a má função arterial.25 Verificou-se uma incidência de doença cardiovascular 5% mais elevada, por cada décimo de aumento na pontuação de proteína-alta, hidrato de carbono-baixo, com uma incidência 62% superior nas categorias mais elevadas em relação às mais baixas.26
Melhorias extraordinárias numa artéria, reveladas por um angiograma coronário, antes (esquerda) e depois (direita) de 32 meses numa dieta vegetariana saudável, sem medicação para reduzir o colesterol.19
26 – Floegel A, Pischon T. Low carbohydrate-high protein diets. BMJ. 2012 Jun 19;344:e3801.