A alimentação humana é uma actividade de dimensão monumental, derivada inescapavelmente de organismos vivos com características e espectros de produção tão distintos. Isso implica o potencial das escolhas dietéticas exercerem repercussões estritamente opostas na sustentação e equilíbrio dos ecossistemas de um planeta, cujos recursos são ínfimos perante uma capacidade de exploração tão magnânima. Biliões de indivíduos votam diariamente sobre os recursos biológicos de uma forma que prioriza a sua satisfação hedónica – que a tecnologia progressivamente apurou – ao invés de necessidades nutricionais genuínas. Na maioria dos casos, através de enormes intermediários industriais, que utilizam o poder legado por esse investimento em favor da continuação de uma expansão desequilibrada. À semelhança da matéria nutricional, a grande separação é evidente: o consumo de animais escava um precipício vertiginoso que encosta a humanidade à tensão da sua própria demissa.
O CENÁRIO EMINENTE
Esgotamento de 40% dos recursos de água até 2030.
Perda da totalidade do solo superficial em 60 anos.
Aquecimento global /alteração climática catastrófica.
10 biliões de hectares de natureza dizimados em 50 anos.
Metade de todas as espécies extintas em 50 anos.1
.A PRINCIPAL CAUSA DE POLUIÇÃO
E DESPERDÍCIO DE ÁGUA
A produção animal é a principal causa de desperdício e poluição de água. Nos E.U.A., 87% da água doce consumida destina-se à agricultura, primariamente para a irrigação de culturas destinadas à alimentação animal. Para produzir 1 kg de carne de vaca são necessários 13 kg de cereal e 30 kg de feno, que requerem quase 50 000 litros de água. Se essa quantidade de carne for produzida em pasto, mais de 200 000 litros são necessários, o que equivale a encher uma banheira de 300 litros todos os dias durante quase dois anos.2 Para a produção de 453 gramas de frango são necessários cerca de 1590 litros de água.3
A agricultura animal também é a maior fonte de poluição aquática. Nos E.U.A, o gado é responsável por cerca de 37% dos pesticidas, 50% dos antibióticos e 1/3 das descargas de nitrogénio e fósforo em recursos de água doce.4 São produzidos cerca de 130 vezes mais dejectos animais do que humanos – cerca de 5 toneladas por cada cidadão – que não são sujeitos a tratamento. O escorrimento agrícola, pejado de químicos, e as cheias que fazem transbordar as lagoas imundas das fábricas de produção animal, causam contaminações ambientais catastróficas, responsáveis por centenas de milhares de quilómetros de zonas aquáticas mortas e enormes prejuízos de saúde.5 A produção de animais também afecta a disponibilidade de água doce ao compactar o solo, reduzir a infiltração, degradar os cursos de água, reduzir as bases de água e provocar a desflorestação.6
Os pontos minúsculos à esquerda são vacas. À direita, o escorrimento pejado de químicos e excrementos.
A PRINCIPAL CAUSA
DE EROSÃO TERRESTRE
O sector de produção animal é de longe o maior explorador do planeta. O gado ocupa 70% da área agrícola e 30% de toda a superfície terrestre. A maior parte da erosão do solo – cerca de 55% – é provocada pela indústria de produção animal.6 Todos os anos, cerca de 90% das terras aráveis degradam-se 13 vezes acima do ritmo sustentável de 1 tonelada por hectare por ano. O problema é evidente quando se constata que demora aproximadamente 500 anos para substituir 25 mm de solo perdido.2 Em relação à produção de soja a proteína animal requer até 17 vezes mais terra.7
A degradação do solo é maioritariamente provocada pela agricultura animal.
A PRINCIPAL CAUSA
DE DESTRUIÇÃO FLORESTAL
A produção animal é a principal causa de desflorestação. Um estudo de 200 especialistas concluiu que 80% da destruição florestal nos trópicos é atribuível à criação de terra para criar e alimentar gado.8 Na Amazónia, 70% da área anteriormente ocupada por floresta foi convertida em pasto, e as culturas para a alimentação animal cobrem uma grande parte do restante.9 O Brasil tem a maior manada comercial do mundo e é o maior exportador mundial de carne de vaca. Cerca de 40% do gado brasileiro está localizado dentro da Amazónia – a zona onde a maior parte da expansão ocorre. De 1990 a 2003, a manada na Amazónia legal passou de 26.6 para 64 milhões de animais, e de 2002 para 2006, a área de pastagens aumentou em cerca de 10 milhões de hectares – o tamanho da Islândia. A expansão da produção de gado na Amazónia continua ao ritmo do aumento da demanda internacional.10 A extrapolação de tendências actuais sugere que nos próximos 50 anos, 10 biliões – 10 000 000 000 – de hectares de natureza podem ser convertidos em terra agrícola.11
A desflorestação nos trópicos é uma consequência principal da necessidade de espaços de pastagem e culturas para os animais de consumo.
A PRINCIPAL CAUSA DE
AQUECIMENTO GLOBAL
De todas as actividades humanas, a produção animal é de longe a maior contribuinte para o fenómeno de aquecimento global. A estimativa da FAO – Organização Alimentar e Agrícola das Nações Unidas – é a de que os animais para consumo produzam mais gases com efeito de estufa (18%) do que todos transportes combinados (15%).6 Investigadores do World Watch Institute afirmaram que o cálculo da FAO estava brutalmente subestimado e avançaram com a possibilidade de a percentagem contributiva da agricultura animal representar uns espantosos 51% – alegando que todas as estimativas para chegar a esse valor foram conservadoras.7 O sector de produção animal é o responsável primário pela emissão de gases com um potencial muito elevado de aquecer a atmosfera – 65% do óxido nítrico e 37% do metano, com 296 e 23 vezes, respectivamente, o potencial de aquecimento global do CO2 – assim como por 64% das emissões de amónia, que provocam as chuvas ácidas e a acidificação dos ecossistemas.8 Há associações consistentes entre a poluição aérea proveniente dos centros de produção animal e problemas respiratórios e psiquiátricos.3 É estimado que até 2100, as temperaturas globais subam cerca de 6 graus, o que resultará em alterações dramáticas dos ecossistemas e em extinções massivas da biodiversidade.12
Agricultura animal: o principal responsável pelo fenómeno de aquecimento global antropogénico.
A PRINCIPAL CAUSA
DE EXTINÇÃO DE ESPÉCIES
A produção animal é a principal responsável pela “sexta grande extinção” e contribui directamente para o desaparecimento da maioria das espécies ameaçadas.13 Os animais de produção constituem cerca de 20% da biomassa total, e ocupam 30% da superfície terrestre – que foi outrora habitada por espécies selvagens.6 Nos próximos 50 anos, apenas o aquecimento global pode provocar o desaparecimento de até 37% da biodiversidade.12,14 No mesmo período, prevê-se que todas as espécies actualmente pescadas colapsem.15 A extinção continuará a alastrar-se em sintonia com a destruição de habitats naturais, poluição, pesca, caça, etc. – isto é, de acordo com a demanda por carne, peixe e lacticínios.
Ao contrastar o impacto global da indústria pesqueira entre 1950 e 2006, é facilmente perceptível que as recomendações para o consumo de peixe são totalmente acientíficas.
A PRINCIPAL CAUSA
DE DESPERDÍCIO ENERGÉTICO
As fábricas de produção animal requerem consumos desproporcionalmente grandes de combustível, energia e químicos. Enquanto que, para todos os produtos agrícolas combinados, o rácio de combustível gasto por unidade de energia alimentar produzida é de uma média de 3 para 1, para a produção industrial de carne o gasto pode ser de 35 para 1.4 A eficiência dos combustíveis fósseis é 50 vezes superior para proteínas vegetais comparadas com as animais. Apanhar peixe é 14 vezes mais dispendioso do que produzir proteína vegetal, e produzir refeições prontas a comer não vegetarianas é 20 vezes mais dispendioso do que refeições vegetarianas.16 Se o resto do mundo se equiparasse à intensidade energética do sistema de produção agrícola ocidental, as reservas de petróleo mundiais durariam cerca de 12 anos.16
Agricultura animal: desperdício intolerável de recursos.
.QUE FUTURO?
Até 2050, prevê-se que a produção global de carne e de lacticínios mais do que duplique devido à ascensão económica e ao crescimento das populações.17 A solução mais eficaz para evitar um cataclismo ecológico que já é premente consiste na adopção e promoção de uma dieta que mitigue o consumo de produtos de origem animal.
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